Jejum ou Comer com Regularidade?!

"Eu estou a fazer aquela dieta do jejum"!
Se há frase que eu passei a ouvir mais vezes que do que gostaria, foi esta e este tema levanta várias questões:
1ª - "o prémio Nobel de Medicina diz que afinal o jejum é melhor";
2ª - "comer várias vezes ao dia afinal é o que faz aumentar a vontade de comer";
3ª - "Não estou a comer o dia todo, muitas vezes nem janto e nunca tive problema nenhum. As minhas análises estão sempre boas".

Vamos então por partes. Antes de mais, gostaria de clarificar que este é um artigo de opinião, como todos os outros artigos que aqui escrevo. Em todos os temas, escrevo de acordo com os artigos científicos publicados, de acordo com a minha experiência profissional e de acordo com a minha análise crítica científica e pessoal. Em temas controversos como este, gosto de deixar esta nota de forma clara.

Prémio Nobel da Fisiologia e Medicina
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                                      Imagem retirada de "Google Photos"                                                                
Para quem não está a par deste tema, o chamado "jejum intermitente" tem ganho força desde que o Cientista Yoshinori Ohsumi ganhou o prémio Nobel da Medicina através do seu trabalho sobre os mecanismos de autofagia (mecanismo em que as células se alimentam de si mesmas) em células de levedura.
Este estudo levou à descoberta de que os períodos de fome influenciam positivamente a renovação de células e a desacelerar o processo de envelhecimento.
Ora para que se tenha alguma opinião (sendo ou não da área das ciências), é necessário perceber o que este estudo alega. Falemos então sobre isso.
A autofagia, é uma forma das células evitarem elementos que se tornam desnecessários ao seu funcionamento e também células mortas e danificadas. Assim, de certa forma, as células que já cumpriram o seu dever, são utilizadas como combustível e para construção de novas células.
Em estudos anteriores feitos pelo autor, foram associados os genes e mecanismos que envolvem leveduras aos mecanismos usados pelas células humanas.

Qual o alegado benefício da autofagocitose?
De forma geral, a autofagocitose é responsável pela capacidade de renovação pelo organismo ou seja, as lutas contras as infecções e a expulsão de toxinas. Distúrbios nestes processos, relacionam-se com diferentes patologias como tumores malignos, diabetes tipo II e Alzheimer por exemplo. Ao sofrer uma infecção, a célula que "se alimenta" da bactéria, usa os mesmos mecanismos e proteínas renovando-as.
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Imagem retirada de "Google Photos"

Em que medida a fome influencia a autofagocitose das células?

Durante ausência de alimentos, o nível de açúcar no sangue diminui, o que implica uma diminuição da produção de insulina (hormona que transporta o açúcar do sangue para as células). Este facto, é interpretado pelo nosso organismo como entrada num modo de sobrevivência, abrandando o metabolismo e activando a produção de glucagina (hormona que transporta o açúcar das células para o sangue). Uma das funções desta hormona é o estímulo da autofagia celular.

Havendo privação de açúcar, há perda de massa muscular?
Segundo esta pesquisa, apesar do metabolismo abrandar em períodos de jejum, quando estes se prolongam por um período de doze a setenta e duas horas, o inverso acontece. Isto é, o metabolismo acelera graças à produção da hormona noradrenalina provocada pelo stress que o organismo sofre que é responsável pela sensação de fome.
Segundo esta teoria, o mesmo sistema acontece com a perda de massa muscular ou seja, se o corpo sofre um período de jejum, o nível de produção da hormona de crescimento aumenta afim de o corpo conseguir receber a gordura como fonte de energia e esta hormona tem também funções que não permite a destruição de massa muscular e também funções anabólicas (de construção) mantendo a massa muscular.

É neste momento que o leitor já está a pensar, "é isto mesmo! parece-me bem! afinal, isto é bom!" não é bem assim...passo a explicar:
Em primeiro lugar, há que perceber que esta investigação foi feita no sentido de se perceber os mecanismos da autofagia em células de LEVEDURA (sim, os mecanismos destas células foram associados aos mecanismos dos genes humanos mas, ainda assim, não são genes cópia, logo não são exactamente iguais! Além de que existem outros factores no corpo humano que determinam a acção das células, como o bem-estar psicológico e a forma como pode influenciar as acções celulares quer positivamente, quer negativamente).
Claro está, que é um grande e bom indício que este estudo traz mas não podemos basear todos os raciocínios e mecanismos bioquímicos sem qualquer tipo de análise crítica a esta situação. Isto é, quando as pessoas optam por emagrecer, devem-no fazer através da aquisição de novos hábitos alimentares e um ESTILO de VIDA SAUDÁVEL e não deixar de comer sem saber sequer comer adequadamente!
A grande questão, toca no facto de muitas pessoas aderirem a este sistema com a finalidade de emagrecer ou até aumentar o rendimento mas sabem que mais? Este estilo de alimentação (se é que podemos chamar assim), na minha opinião, não é exequível para uma VIDA! A curto prazo talvez mas para uma vida?! Relembro que todos nós temos vida social, familiar, desportiva e até a emocional poderá ficar mais desequilibrada a longo prazo. No entanto, este facto só poderá vir a ser confirmado com estudos a longo prazo (40-50anos) e ainda não há estudos sobre o impacto deste tipo de jejum a longo prazo.

A grande parte dos estudos sobre jejum intermitente foram realizados em ANIMAIS! (relembro que estes comem para sobreviver e não como nós - por contexto social e emocional por exemplo).
Os estudos que foram feitos em humanos, ocorreram com alguns detalhes que muitas pessoas não sabem: 4 em 16 estudos, não houve mudanças de peso e um deles, aumentou; 7 destes estudos, não teve grupo de controlo e em dois deles o grupo de controlo manteve os seus hábitos alimentares (não sendo assim possível concluir qual a variável que trouxe benefícios, se o jejum ou o facto de ingerirem menos alimentos); os estudos não compararam, entre os grupos de jejum com outros que também estavam em restrição calórica, o impacto em alguns valores bioquímicos como a glicémia, triglicéridos, HDL e LDL, letptina, proteínca C reactiva...em dois dos estudos verificou-se que a insulina em jejum diminuiu.
Tratam-se de estudos de duração reduzida (até 12 semanas) e por isso, torna-se arriscado generalizar sobre o impacto do jejum em doenças cardiovasculares, cancro e Alzheimer por exemplo.
No entanto, com bastante força de vontade e restrição calórica, pode ser, do ponto de vista técnico, uma terapêutica interessante para indivíduos com resistência à insulina.

Conclusão, o que devemos tirar de todas estas evidências, é que não existem regras imutáveis no que respeita à perda de gordura. Longos períodos de jejum, podem perfeitamente levar à perda de gordura fazendo apenas almoço e jantar em vez de comer várias vezes ao dia. No entanto, não é de todo o melhor método para a preservação da massa muscular e optimização das várias funcionalidades do corpo, uma vez que antes de começar o processo hormonal que permite a manutenção da massa muscular como previamente explicado, o corpo tem que passar pelo stress de ficar sem recursos, ter alterações hormonais (o que não é desejável, os níveis destas hormonas querem-se estáveis) para só então aí começar a manter a massa muscular que entretanto não foi perdida neste período de tempo. Sem esquecer que para a optimização dos músculos, uma vez que a sua fonte de energia é o açúcar, qualquer quebra na sua fonte, leva a uma quebra no seu desempenho e este não é de todo o meu conselho já que quanto mais massa muscular o corpo tiver, mais energia é capaz de produzir (ou seja, gastar) levando por sua vez, a um equilíbrio da composição corporal e de um estilo de vida saudável.

Comer bem para ficar bem nutrido é a chave para um sucesso a longo prazo. Um estilo de vida activo, é a chave para um sucesso a longo prazo, aprender a comer e não fazer mais uma dieta da moda, é a chave para o sucesso a longo prazo, aprender a ter uma boa relação com a nossa mente e a comida, é a chave para um sucesso a longo prazo...enfim, dar condições ao corpo para desempenhar as suas funções com alto rendimento, depende de nós e da forma como encaramos a alimentação e o ESTILO de VIDA. Assim, faça por isso! Tenha um estilo de vida activo, coma várias vezes ao dia que só assim tem variedade suficiente para fornecer os vários nutrientes que o corpo precisa para estar em alto rendimento durante todo um dia de de trabalho, treino, lazer e por aí a diante.

Votos de bons lanches, seja criativo na cozinha, esse é um detalhe precioso!😉

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